Os Esteróides Anabolizantes e o Exercício Físico

Os Esteróides Anabolizantes e o Exercício Físico
Última parte da série de posts baseados num estudo de 2005, publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte pelos autores Marco Túlio de Mello, Rita Aurélia Boscolo, Andrea Maculano Esteves e Sérgio Tufik. Este estudo trata da relação entre atividade física e alguns aspectos psicobiológicos. Agora vamos falar de Esteróides anabolizantes e sua relação com o Exercício Físico.

OS ESTERÓIDES ANABOLIZANTES E O EXERCÍCIO FÍSICO

Outro tópico que está sendo recentemente estudado é o uso de esteróides anabolizantes (EAs). A associação entre os EAs e o treinamento físico é capaz de produzir alterações na performance de atletas, dando larga vantagem do ponto de vista da treinabilidade e podendo ser determinante no resultado final em uma competição(43).
Historicamente a partir da década de 60, o uso dessas drogas passou a ser difundido no meio esportivo, quando entrou para a lista de substâncias proibidas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em meados da década de 70, iniciaram-se os testes antidopagens para os EAs. O caso mais famoso de um atleta flagrado em um exame antidoping ocorreu nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, quando o corredor canadense Ben Johnson foi eliminado da competição, perdendo a medalha de ouro que havia conquistado(44).
Posteriormente, o uso de EA se difundiu. Deixou de ser exclusividade do universo esportivo de alto rendimento e passou a ser usado e abusado por praticantes de atividade física recreativa e freqüentadores de academias, interessados nos efeitos estéticos que essas drogas, aliadas ao treinamento resistido, podem proporcionar(45,46).
Apesar de os EAs serem substâncias ilícitas e que causam diversos efeitos colaterais, alguns atletas procuram utilizá-los para se beneficiarem durante as competições. Isso ocorre porque quase que a totalidade dos tecidos do organismo possuem receptores para hormônios androgênicos. Um exemplo disso é que os EAs estimulam a síntese e a liberação de hemoglobina (proteína carreadora de oxigênio), aumentando a oferta de oxigênio nos tecidos, conseqüentemente melhorando o rendimento desportivo(47).
Tamaki et al.(48) mostraram, em estudo com animais de laboratório, que os EAs diminuem o tempo de recuperação entre as sessões de treinamento. Outros estudos mostram o aumento do glicogênio muscular e da síntese de proteína com conseqüente aumento da massa magra(49).
Entretanto, o uso abusivo dos EAs pode carretar o aparecimento de efeitos colaterais reversíveis e irreversíveis, na maioria dos sistemas do organismo (sistemas hepático, cardiovascular e endócrino)(50). Dentre esses efeitos podem ocorrer danos no tecido hepático, atrofia de testículos, hipertrofia de clitóris e, em alguns casos, podem chegar à hipertensão arterial e à hipertrofia ventricular esquerda. Outro efeito ocorre sobre a arquitetura do sono. Estudos, em nosso laboratório, ainda em andamento, demonstram que o uso de EAs resultam na diminuição da eficiência do sono e no aumento a latência de sono, trazendo prejuízos à qualidade do sono.
O uso de EAs no meio esportivo atravessou décadas, fazendo parte da política esportiva oficial de alguns países(43). Porém os estudos sobre a extensão da participação desse tipo de substância sobre a performance dos atletas demoraram algum tempo a ser comprovados. Pois os estudos controlados não observavam alterações na potência, na força e na secção transversa muscular, isso porque as dosagens dos EAs administradas nesses estudos estão bem abaixo das usadas pelos atletas(48).
Continue lendo:

Parte 1 – A Influência da Atividade Física no Sono
Parte 2 – Os Ritmos Biológicos e o Exercício Físico
Parte 3 – Os Transtornos do Humor e o Exercício Físico
Parte 4 – A Memória e o Exercício Físico
Parte 5 – A Dependência do Exercício Físico
Parte 6 – O Álcool e o Exercício Físico
Parte 7 – Os Esteróides Anabolizantes e o Exercício Físico

É isso aí. Gostou do artigo? Ficou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

REFERÊNCIAS

43. Frank WW, Berendonk B. Hormonal doping androgenization of athletes: a secret program of the German Democratic Republic government. Clin Chem 1997; 43:1262-79.
44. Kochakian DC, Yesalis C. Anabolic-androgenic steroids: a historical perspective and definition. In: Yesalis C. Anabolic steroids in sport and exercise. 2nd ed. Champaign: Human Kinetics, 2000;17-49.
45. Kanayama G, Gurber AJ, Pope HG Jr, Borowiecki JJ, Hudson JI. Over-the-counter drug use in gymnasiums: an underrecognized substance abuse problem? Psycother Psychosom 2001;70:137-40.
46. Korkia P, Stimson GV. Indications of prevalence, practice and effects of anabolic androgenic steroids use in Great Britain. Int J Sports Med 1997;18:557-62.
47. Reents S. Sport and exercise pharmacology. Champaign: Human Kinetics, 2000.
48. Tamaki T, Uchiyama S, Uchiyama Y, Akatsuka A, Roy RR, Edgerton VR. Anabolic steroids increased exercise tolerance. Am J Physiol Endocrinol Metabol 2001; 280:973-81.
49. Fahey TD. Anabolic-androgenic steroids: mechanism of action and effects on performance. In: Fahey TD, editor. Encyclopedia of sports medicine and science. Internet Society for Sport Science, 1998 [cited 1998 mar 7]. Available form: http://www.sportsci.org.
50. Kuipers H. Anabolic steroids: side effects. In: Fahey TD, editor. Encyclopedia of sports medicine and science. Internet Society for Sport Science, 1998 [cited 1998 mar 7]. Available form: http://www.sportsci.org.

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